Em junho de 2018, os investidores estrangeiros retiraram quase R$ 650 milhões da Bolsa de Valores. Ao longo do 1º semestre deste ano, o saldo da participação estrangeira no mercado financeiro estava negativo em quase R$ 9 bilhões. Outro efeito da crise econômica mundial foi drenar capital do mercado brasileiro de inovação (especialmente das startups). A estimativa do Banco Central (BC) em janeiro último era o de um aporte de US$ 80 bilhões do investimento estrangeiro direto. No balanço de 2017, este investimento fechou em US$ 70,3 bilhões, quase US$ 5 bilhões a menos que a previsão do BC para o ano e o menor patamar desde 2013.
O cenário tem deixado investidores estrangeiros reticentes em investir no país, o que freou os aportes internacionais. Investidores e empresários apontam as eleições como um fator que limita movimentos e operações mais ousadas. No último mês, a greve de caminhoneiros revelou a instabilidade das estruturas que sustentam a economia.
Entre os 10 maiores gestores de recursos provenientes de investidores estrangeiros, com quase R$ 3,5 bilhões sob gestão, e como o 2º gestor nacional mais focado na operação com investidores estrangeiros, que representam mais de 90% do fundo, a Vision Brazil Investments entende que o Brasil é um país repleto de oportunidades e prevê cenários positivos com a chegada das eleições. As sucessivas crises em 2018 não permitiram que reformas estruturais, como a tributária e a previdenciária, que virão à tona na campanha, seguissem no Congresso Nacional.
Analistas se mostram otimistas com o futuro do país. Previsões apontam que a fuga do capital estrangeiro estaria com os dias contados. Os investimentos deverão se voltar ao mercado nacional, graças às medidas econômicas que ganharam ritmo e agradaram a classe empresarial e investidores no último ano e à retomada do crescimento em 2017.
O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) avalia que o país ainda é interessante para investimentos a longo prazo. Para o Ibef, as perspectivas são de que a instabilidade política se encerre após os resultados nas urnas. Embora a desistência da votação das reformas tenha desaquecido os investimentos estrangeiros, o mercado nacional ainda daria sinais de segurança financeira e apresentaria atrativos. A recente expansão da economia americana e reservas cambiais muito fortes no Brasil seriam como combustíveis para as movimentações de fundos de investimentos estrangeiros no mercado nacional.
Os investidores acompanham de perto a alta da taxa do dólar e os recentes cortes da taxa básica de juros, a Selic. O temor é a dependência dos efeitos sobre a Selic das taxas oferecidas pelos bancos, que continuam muito altas. A narrativa brasileira tem se mostrado menos como um conto de fadas para especialistas e investidores estrangeiros como o JP Morgan que, em relatório de junho, foi enfático: “O Brasil não está mais no Kansas” – alusão à obra “O Mágico de Oz”, cuja protagonista é afastada de sua casa, no Kansas, por um tornado e jogada na desconhecida terra de Oz. A avaliação do banco se baseava na análise de impacto das concessões feitas pelo governo brasileiro aos apelos de caminhoneiros e empresários durante a greve que afetou o país. A decisão de intervir na política de repasse de preços praticada pela Petrobras afetou o risco atribuído ao país para pior.
O Investimento Direto no País (IDP), que mostra o desempenho das aquisições e empréstimos de matrizes no exterior a suas filiais brasileiras, teve queda de 30% entre janeiro e abril de 2018 em relação ao mesmo período de 2017. Somente em abril, o volume de investimentos estrangeiros produtivos somou US$ 2,6 bilhões, seu menor nível desde 2006.
A tendência é de continuidade desse cenário. Especula-se que a guerra comercial entre EUA e China vai atrair mais investimentos para o Brasil e outros países em desenvolvimento. Uma das maneiras de retaliar o governo americano seria promovendo boicote a bens de consumo vindos dos EUA e substituir fornecedores americanos por de outros países.
A perda de confiança no governo se somou à piora do cenário mundial e a preocupações de investidores com o aumento do protecionismo e conflitos geopolíticos. Outra ponderação do JP Morgan é a probabilidade de um resultado que não agrade ao mercado nas eleições presidenciais deste ano.
Há muito a ser definido no cenário brasileiro. As incertezas dão fôlego às especulações. O acumulado de US$ 61,8 bilhões de investimentos estrangeiros diretos no Brasil nos últimos 12 meses até maio de 2018 corresponde a uma fatia de 3,07% do Produto Interno Bruto. Mesmo abaixo das projeções governamentais para o setor, o IDP ainda é a principal fonte de financiamento do balanço de pagamentos no país e de equilíbrio das contas externas. A queda desses investimentos, no entanto, reflete a insegurança política em relação às medidas econômicas que poderão ser adotadas pelo próximo governo. Era prevista cautela dos investidores até as eleições e a consequente redução de aportes do capital estrangeiro no mercado nacional. Porém, a expectativa dos especialistas é que os rumos de crescimento da economia sejam retomados com as definições no cenário político, a estabilização da taxa básica de juros na mínima histórica e as discussões sobre as reformas tributária e previdenciária.