Por Erick, O Caçador
Na busca por proteção dos muitos perigos da vida bandida, sempre se falou que alguns criminosos supostamente possuíam pactos com forças espirituais ocultas e que usariam amuletos com encantamentos de proteção e sorte contra inimigos. Das estrelas de couro nos chapéus dos cangaceiros ( na verdade, inspiradas no Selo-de-Salomão e na antiga estrela de oito pontas de Ishtar) até os pactos com entidades nos terreiros de macumba, o rol dos artifícios alegados para ter vantagem sobre a Polícia e outros adversários é variado. Trataremos aqui do sobrenatural usado como recurso pelo crime.
A mística sertaneja alude a rezas fortes para fechar o corpo, livrando de “ferro-frio” (facadas) e de balas, dando o caborge de “invulnerabilidade”, durante o tempo em que o caborjudo não tocasse em mulher – o que lhe tiraria tais poderes.
Virgolino Ferreira, o Lampião, tinha o hábito de oficiar certo rito “engrimanço” com seu bando, semelhado a uma missa herege, fato bem registrado nas suas únicas imagens em filme, feitas por Benjamin Abraham. Quando da morte Lampião no combate de Angico/AL (1938), foi encontrado um breviário nos seus bornais que, entre outras fórmulas, continha a “Oração da Pedra Cristalina”. O próprio vestuário e equipamento dos cangaceiros do bando de Lampião era repleto de símbolos místicos tais como estrelas de oito pontas, flores-de-lis e cruzes de malta, entremeados de moedas e motivos florais.
Há um relato de que Corisco, chefe de subgrupo subordinado a Lampião, revoltado no momento da morte de sua segunda filha, teria rezado em alta voz o sombrio “Credo ao Contrário”, verdadeiro aboio de chamar o Cão…
Nas zonas litorâneas, onde o espiritismo afro-ameríndio se manifesta nos terreiros de Candomblé e da Jurema Sagrada, não foram poucos os criminosos que fizeram pactos com espíritos que, alegadamente, foram malandros ou marginais em sua vida terrena. É o caso de entidades como Zé Pelintra ou os diversos tipos Pombas-Giras e Exus. A proteção desse “padrinhos”, conjugada com o uso de “patuás” e “guias” (espécie de amuletos supostamente imantados com poder sobrenatural) daria ao “afilhado” o “pulo do gato” em cima de seus inimigos. A paga pela proteção seria feita com sangue do sacrifício de animais, bebidas e charutos ou cigarros.
Já no Caldeirão do Diabo (antigo Presídio João Chaves, Natal/RN), os presos comentavam sobre rituais nefandos, feitos na cela de Naldinho do Mereto, Demir e Paulo Queixada ( terrores de Natal nos anos 90). O “Trio Ternura”, segundo um ex-detento, praticava magia negra e sexo grupal entre si, sendo eles bastante temidos também por essas “esquisitices”. Nessa época, muitos no submundo se valeram dos feitiços encontrados no Grimório denominado “Livro de São Cipriano”.
É comum, nos membros das Facções Criminosas Prisionais da atualidade, tatuagens com motivos macabros, representando o Diabo ou seres infernais. Se isso lhes concede algum tipo de “aliança sobrenatural” (mesmo que inconsciente) ou se é apenas pintura corporal como expressão de arte degenerada, há controvérsias.
Erick Guerra, O Caçador