Recentemente, em um jantar com universitários, um dos alunos me perguntou um economista cuja obra eu recomendaria. Mas não poderia ser nenhum dos famosos — como Adam Smith, F.A. Hayek, Ludwig von Mises e Milton Friedman — cujas obras eu sempre recomendo.
Ótima pergunta.
Imediatamente respondi: Julian Simon.
Obviamente, nenhum dos alunos já havia ouvido falar em Simon. Sendo assim, comecei a falar sobre este extraordinário intelectual que é injustamente pouco conhecido.
A mais notável contribuição de Julian Simon é a sua demonstração de que a mente humana é, como ele próprio descreveu, “o recurso definitivo e supremo“.
A mente humana é o recurso supremo porque é ela, e apenas ela, quem cria todos os outros insumos economicamente valiosos que rotulamos de “recursos”.
Não existem recursos naturais
À primeira vista, esta noção soa um tanto maluca. Afinal, a mente humana não criou coisas como a madeira ou o minério de ferro ou o petróleo. Estes materiais foram criados pela natureza; é por isso que eles são chamados de “recursos naturais”.
Sim, é verdade que a natureza criou estes materiais, mas a natureza não os transformou em recursos. Esta crucial transformação foi feita exclusivamente pela criatividade humana, pelo intelecto humano e pelo esforço humano.
Por exemplo, aquilo que nós humanos chamamos hoje de minério de ferro são apenas rochas especialmente ricas em óxidos de ferro. Sozinhas, estas rochas são inúteis. Por si sós, elas permaneceriam no subsolo sem qualquer utilidade. No entanto, elas se tornaram úteis porque os seres humanos, primeiro, descobriram que os óxidos de ferro podem ser transformados em substâncias — ferro e aço — que servem a propósitos humanos; e, segundo, descobriram como extrair os óxidos das rochas para então manufaturá-los em aço e ferro.
Sem essa criatividade, esse intelecto e esse esforço, o minério de ferro seria tão importante para as pessoas quanto é para um porco-espinho.
Como explicado aqui:
A oferta de ferro como um recurso natural economicamente utilizável era de zero para o povo da Idade da Pedra. O ferro passou a ser um recurso natural economicamente utilizável somente após terem descoberto alguma utilidade para ele e após terem percebido que o ferro poderia contribuir para a vida e bem-estar do homem ao ser forjado em vários objetos.
A oferta de ferro economicamente utilizável […] se tornou muito maior quando se descobriram métodos para separar o ferro de compostos contendo enxofre.
Quando este ferro foi separado de elementos como oxigênio e enxofre e recombinado com outros elementos como cromo e níquel para formar os automóveis, os eletrodomésticos e as vigas de aço que sustentam prédios e pontes, ele se tornou muito mais útil e valioso para a vida e bem-estar humano do que o mesmo ferro soterrado, intocado e inutilizado no subsolo.
O mesmo é válido para o petróleo e o carvão trazidos para a terra e utilizados para gerar calor, iluminar casas e fornecer energia para as máquinas e ferramentas do homem.
O mesmo também é válido para todos os elementos químicos que se transformaram em componentes essenciais de produtos importantes quando comparados ao que eram esses mesmos elementos quando jaziam inertes no subsolo.
Em suma: um material ser caracterizado como um recurso é algo que depende inteiramente da genialidade humana.
Este fato é verdadeiro até mesmo para a terra. Ao longo da maior parte da existência humana, a terra era simplesmente um pedaço de chão sobre o qual nós, como todas as outras criaturas, pisávamos, sentávamos e dormíamos. Foi apenas há aproximadamente 10 mil anos que alguns indivíduos criativos descobriram como cultivar terra para propósitos agrícolas. Foi só então que a terra se tornou um recurso.
A ideia de Simon é, ao mesmo tempo, simples e surpreendente. Uma vez que você a compreende, sua veracidade é inegável. Mais ainda: suas implicações são profundas — por exemplo, ela faz você constatar que a quantidade de recursos na terra não é fixa.
Os recursos não estão sendo exauridos
Embora a quantidade de matéria — a quantidade de átomos — do planeta de fato seja fixa (excetuando-se aquilo que eventualmente seja trazido por meteoros, asteróides e astronautas), as maneiras como esses átomos podem ser combinados e recombinados são infinitas.
Como disse o professor Paul Romer, da Universidade de Nova York, “A tabela periódica contém aproximadamente cem tipos diferentes de átomos. Se pegarmos uma receita simples, do tipo que combina apenas dois elementos — como para formar o aço (ferro e carbono) ou o bronze (cobre e estanho) —, então há 100 x 99 receitas possíveis para apenas dois elementos. Para receitas que envolvem quatro elementos, há 100 x 99 x 98 x 97 receitas possíveis, o que equivale a mais de 94 milhões de combinações […] Para 10 elementos, há mais receitas possíveis do que segundos vividos desde que o Big Bang criou o universo.”
Consequentemente, a quantidade de recursos existentes pode crescer, e de fato cresce, em decorrência da criatividade e do esforço humano.
Este fato, por sua vez, significa que tão logo nós humanos tivermos incentivos suficientes para exercitar nossa criatividade, e tivermos garantido o direito de usufruirmos os ganhos oriundos de nossas criações, é certo que jamais iremos ficar sem recursos, tampouco vivenciaremos qualquer exaurimento significativo de recursos.
Esta previsão feita por Julian Simon, corroborada pela ciência econômica e comprovada pela própria matemática contradiz completamente não apenas o senso comum popular, como também as opiniões de vários cientistas, que afirmam que os recursos naturais são finitos e estão acabando.
Só que tanto a opinião popular quanto a profissional cometem o erro de pressupor que os recursos são criados pela natureza. E dado que a natureza de fato não está criando mais petróleo, magnésio, bauxita e outros recursos “naturais” na terra e nos oceanos, então é certo (segundo eles) que estamos exaurindo nossas ofertas de recursos à medida que os utilizamos diariamente.
Este raciocínio leva à conclusão de que a única maneira de evitar que fiquemos sem recursos é reduzindo a taxa de crescimento econômico ou, talvez, até mesmo interromper por completo o crescimento econômico.
No entanto, essa linha de raciocínio e sua conclusão também são refutadas por um impressionante fato: a oferta global de mercadorias industriais não caiu durante a nossa atual era industrial; ao contrário, subiu. E sabemos que este fato é verdadeiro porque os preços dos produtos industriais, quando ajustados pela inflação, são hoje muito menores do que eram há dois séculos. Preços menores são uma poderosa evidência de que a oferta aumentou em relação à demanda.
Sendo assim, apesar do enorme crescimento ocorrido nos últimos dois séculos na demanda por mercadorias industriais (estimuladas tanto pelo aumento da renda quanto pelo aumento populacional), a queda nos preços reais das mercadorias industriais sinaliza um colossal aumento em sua oferta.
O crescimento econômico cria mais recursos
Eis agora uma implicação ainda mais impressionante da constatação de Simon, e também levando em conta tudo o que já foi dito acima: o crescimento econômico impede, em vez de causar, o exaurimento de recursos.
E ele faz isso de duas maneiras.
De um lado, ao nos tornar mais ricos, ele consequentemente nos fornece mais tempo e recursos para a educação de pessoas que, no futuro, irão utilizar suas mentes para a tarefa de descobrir maneiras de produzir mais bens utilizando menos recursos ou descobrir e extrair recursos de locais até então inacessíveis. Pense, por exemplo, em como o fracking (fraturamento hidráulico) permite a extração de gás natural e petróleo das rochas.
De outro, o crescimento econômico também impede o exaurimento de recursos ao ofertar a humanidade com quantidades maiores daquele recurso supremo: a mente humana. O crescimento econômico nos liberta da armadilha malthusiana. Ele permite que mais mentes criativas sobrevivam na fase adulta e então interajam com outras. Esta crescente interação de mentes humanas é, por si só, criativa, pois, à medida que idéias diferentes competem e cooperam entre si, novas e melhores idéias são formadas. o economista Matt Ridley espirituosamente descreveu esse processo como “idéias fazendo sexo” — e assim como mais sexo entre seres humanos cria mais seres humanos, cada um único e singular, mais sexo entre idéias criam mais idéias únicas e singulares. O ciclo é virtuoso.
Conclusão
O que importa, portanto, não são os limites físicos do nosso planeta, mas sim a liberdade humana para experimentar e reimaginar o uso dos recursos naturais que temos à disposição.
E quanto mais mentes humanas houver para criar, experimentar e colocar em prática a combinação de recursos naturais, maiores serão nossa riqueza e nosso padrão de vida.
A prosperidade é produto da razão, da invenção, da engenhosidade, da criatividade, da inovação, da busca pelo interesse próprio, da maximização de utilidade, da busca por ganhos comerciais e da busca pelo lucro. Desde Adam Smith no século XVIII, economistas vivem a explicar como esses fatores levam a uma maior divisão e especialização da mão-de-obra, o que, por sua vez, leva à criação de máquinas, ferramentas e tecnologias que, além de gerarem ganhos de produtividade, permitem a recombinação dos recursos físicos existentes na terra, o que leva à criação de novos materiais. E isso leva a um aumento contínuo do nosso padrão de vida.
Para tudo isso ocorrer, no entanto, é necessário haver liberdade. Não apenas liberdades civis, mas também liberdade para empreender, para criar, e para manter para si os frutos financeiros (lucro) de suas criações.
Em sociedades livres, os seres humanos são um recurso valioso, pois apenas os humanos são capazes de terem idéias e utilizar sua energia criativa para converter essas idéias em inovações.
Fonte: Escola Austríaca de Economia