
A defesa do estudante de Medicina Yuri de Moura Alexandre, de 29, acusado de agredir o ator e influencer Victor Meyniel, de 26 anos, no último sábado, em Copacabana, divulgou um comunicado nesta terça-feira em que afirma que a identidade sexual do cliente jamais foi ocultada, se referindo ao fato de Yuri já ter sido casado com uma pessoa do mesmo sexo. O texto, assinado pelo advogado criminalista Lucas Oliveira, ainda faz uma alusão ao julgamento do dramaturgo irlandês Oscar Wilde, condenado por ser homossexual em 1895, em Londres, na Inglaterra. Por conta de sua homossexualidade, que era considerada crime na Inglaterra Vitoriana, o intelectual foi condenado à pena máxima de prisão com trabalhos forçados.
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Ator Victor Meyniel é vítima de homofobia em Copacabana, no Rio
O advogado alega que a identidade sexual de Yuri de Moura estaria sendo apagada, com a justificativa de que ele teria praticado crime de homofobia. Obrigando seu cliente a provar que é gay.
“Ao pensar como WILDE sofreu com seu julgamento no passado, tendo que esconder sua essência e, ao final, se ver obrigado a se desvelar e defender da opressão a sua forma de amar, é possível imaginar, como YURI está submetido ao mesmo inferno, na medida em que tem sua identidade sexual e pessoal apagada para se enquadrar na narrativa acusatória de ‘injúria homofóbica’. De modo a reconduzir YURI a passar pelo doloroso processo de ter que provar para pessoas algo inato, natural”, diz um trecho do comunicado.
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E complementa: “Talvez seja necessário que YURI, sendo gay, seja condenado por ‘injúria homofóbica’, com base em narrativa de apagamento de identidade para que, agora, a sociedade da época entenda que o pré-julgamento (raso) e o ódio nunca serão o caminho adequado. Há muito a se provar! ‘Evidências’ são alucinatórias”.
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A defesa disse ainda que só foi comunicada da prisão do cliente quase seis horas depois de formalizada e foi impedida de contribuir para a elucidação dos fatos. Lucas Oliveira diz ainda que ficará provado “com excesso de detalhes que em nenhum momento foi praticada ofensa à honra de Victor Meyniel em razão de sua identidade sexual ou gênero”. Quanto à acusação de lesão corporal, a nota do advogado não nega a agressão, registrada por uma câmera de segurança, mas diz que” há nos autos do processo exame de corpo de delito realizado por perito oficial que prova que as lesões não geraram incapacidade, perigo de vida ou debilidade permanente”.
O escritor irlandês Oscar Wilde foi preso em 6 de abril de 1895 após “cometer atos imorais com diversos rapazes”, em consequência de uma acusação feita pelo 9º marquês de Queensberry, John Douglas. Wilde estava envolvido afetivamente com o lorde Alfred Douglas, poeta e tradutor inglês, filho do marquês. Ao reprovar a relação, o pai denunciou o escritor por manter relações homossexuais, o que, na época, era considerado um crime na Inglaterra. Após o julgamento, Oscar Wilde foi condenado a dois anos de trabalhos forçados na prisão de Reading, por prática de “indecência grave”.
No último sábado, o ator Victor Meyniel foi brutalmente agredido por Yuri de Moura Alexandre na portaria de um prédio no bairro carioca de Copacabana. A defesa do ator acredita que o episódio de violência sofrido pode ter sido motivado pela exposição pública da sexualidade do agressor.
Segundo a advogada Maíra Fernandes, que defende Meyniel no âmbito criminal, o artista teria perguntado, na portaria do prédio, se “ninguém sabia” sobre a orientação sexual de Yuri. Durante o espancamento, o agressor teria afirmado: “Eu não sou viado [sic]. Você é que é”.
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A indagação de Meyniel foi motivada por uma série de comportamentos incomuns de Yuri ainda no apartamento onde passaram algumas horas na madrugada de sábado, após deixarem a boate Substation Club, antiga Fosfobox, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo a defesa do ator, ele e Yuri teriam se conhecido na porta da boate, por volta das 4h, e decidiram ir para o apartamento do agressor.
No apartamento, ainda segundo a defesa de Meyniel, o ator e o agressor teriam consumido bebidas alcoólicas e trocado beijos. Com a chegada de uma colega de Yuri, por volta das 7h30, o comportamento dele teria mudado bruscamente. O encontro, que, segundo Meyniel, transcorria bem, se tornou uma sequência de atitudes hostis por parte de Yuri.
Após a agressão, Meyniel fez exame de corpo delito no Instituto Médico Legal e recebeu atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Os policiais prenderam o agressor em flagrante momentos após o crime. No momento da prisão, ele teria se identificado como médico da aeronáutica. Depois, negou, afirmando ser médico residente. Por conta disso, foi autuado pelos crimes de lesão corporal, injúria por preconceito e falsidade ideológica.
Um boletim de ocorrência também foi aberto por conta da conduta do porteiro, que teria se omitido ao não prestar socorro ao ator.