
Natural que Fernando Diniz comece sua caminhada à frente da seleção brasileira a partir do ponto deixado por Tite, há nove meses. E por ora não importa se ele é só um interino a ocupar o cargo por oito partidas até a eventual chegada de Ancelotti em 2024. Só o fato de o treinador do Fluminense carregar em torno da imagem dele a sensação de ruptura com o antigo já renova as expectativas. Mas, pelo que se vê, a empatia com o público pode ser um atributo na construção da nova identidade.
A partida contra a Bolívia, em Belém, não deve ser vista como simples estreia da seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa de 2026. O jogo marca a oportunidade de reaproximação com o torcedor através de um estilo mais bonito de se ver, e também o início de um novo ciclo para Neymar brilhar como a principal referência. Desafios que se encaixam, fazendo de Fernando Diniz um coadjuvante com ares de protagonista. Mundo afora, a expectativa é mais pela plástica do que pelo resultado.
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O futebol precisa estar revelando novos personagens de tempos em tempos. Gente corajosa, inventiva, estudiosa e disposta a recriar as estratégias. E este pode ser, meio que por acaso, o grande mérito da CBF do baiano Ednaldo Rodrigues ao optar por Diniz, sua quarta ou quinta opção: apostar no nome que mais se assemelha a Telê Santana. Zagallo é a lenda viva do futebol brasileiro, mas foi o treinador das Copas de 82 e 86 quem até hoje é lembrado pelo futebol coletivo mais apreciado internacionalmente.
Diniz baixou um pouco a média de idade do time, mas, taticamente, a formação da estreia sugere pouca modificação no que vinha sendo feito: Ederson; Danilo, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Renan Lodi; Casemiro, Bruno Guimarães e Neymar; Rodrygo, Richarlison e Raphinha. Mas custo a crer que mesmo tendo feito só quatro treinos ele já não tenha semeado na cabeça dos jogadores a tal “bagunça organizada”, usando técnicas da PNL (Programação Neurolinguística).
Pessoas próximas a Diniz ressaltam que ele faz os menos habilidosos crer que é possível “jogar bola”. E isso me remete à reflexão: das dez seleções que disputam as seis vagas diretas da Conmebol na próxima Copa, sete são dirigidas por treinadores argentinos. As exceções são Brasil, Peru (treinada pelo peruano Juan Reynoso) e Equador (levada pelo espanhol Félix Sanchez). É hora de Fernando Diniz atuar como redentor da classe que perdeu prestígio no mercado ao longo das duas últimas décadas.