
A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) vai manter o técnico Renan dal Zotto no comando da seleção masculina até Paris-2024. Mesmo após a perda do título Sul-Americano, no Recife, e a quebra de uma hegemonia de mais de 30 anos. A informação é de Jorge Bichara, diretor técnico da entidade, que conta ainda que Bernardinho será o coordenador das seleções masculinas, desde a sub-17 até a adulta. Em 2016, quando Bernardinho ganhou o ouro olímpico no Rio, treinando o masculino, Renan era diretor de seleções. O cargo, que era mais voltado à logística e operações, foi extinto.
— O plano B não é B de Bernardinho — garante Bichara. — O desempenho da equipe no Sul-americano foi ruim, fato. Não há questionamento nem tentativa de se encobrir isso. Foi inclusive reconhecido pela comissão técnica e atletas. E o Renan segue treinador da seleção por todo o trabalho que foi feito ao longo deste ciclo. Há um ano, essa seleção conquistava uma medalha de bronze no Mundial. Há dois anos, essa seleção disputou medalha dentro de uma edição olímpica (ficou em quarto). A gente teve desempenhos aquém do potencial da equipe mas entendemos que nesse momento a sequência do trabalho tem de ser mantida.
Segundo Bichara, o plano A e B é ter uma estrutura onde exista um processo de discussão interno mais rico entre todos os membros das comissões técnicas, de base e adulta, e que se possa levar os atletas a uma condição de desempenho melhor. Por isso, a necessidade de integrar as seleções.
Ele conta que, desde que chegou na CBV, em janeiro, se concentra na criação de um novo organograma para a unidade de seleções, com o objetivo de unificar os trabalhos, de olho não apenas em Paris-2024 mas também nos ciclos de Los Angeles-2028 e Brisbane-2032.
— Não é a intenção que o Bernardo comande a seleção junto com o Renan. O Bernardo é um coordenador das seleções masculinas, de todas, desde a sub-17 até a de novos talentos e a adulta. Obviamente que por toda a experiência que tem, vai dar a sua contribuição como todos os membros do departamento técnico. Com suas análises, observações e a amizade que tem com o Renan, mas principalmente com o compromisso e a descrição do cargo dele.
Zé Roberto ainda não aceitou
Bernardinho, que não deixará o comando do time feminino do Flamengo, foi o nome escolhido por Bichara e pela presidência. Ele aceitou o convite antes da disputa da VNL mas sacramentou o acordo nesta sexta-feira, em Saquarema, onde a seleção treinava para o Pré-olímpico.
José Roberto Guimarães foi convidado para coordenar as seleções femininas, além de se manter como treinador do adulto. Mas ainda não respondeu porque “se dedica exclusivamente na preparação da equipe para o Pré-olímpico feminino”, que será no Japão. O Brasil jogará contra o anfitrião, Turquia, Bulgária, Bélgica, Porto Rico, Argentina e Peru entre os dias 16 e 24 de setembro.
Renan não quis dar entrevista e respondeu, via assessoria, que “conheço o Bernardinho há mais de 40 anos. Temos linhas de pensamento e ideologias muito parecidas. Esse trabalho coordenado entre as categorias de base e o time adulto é fundamental para a descoberta e o desenvolvimento de novos talentos. Vamos trabalhar em parceria, pensando nos Jogos de Paris e nos próximos ciclos”.
O treinador já trabalha com novo assistente técnico. No último dia 4, a CBV anunciou a chegada de Marcos Miranda, que fez parte da comissão técnica campeã olímpica em Barcelona-1992, no lugar de Carlos Schwanke, que havia pedido dispensa do Sul-americano. Ele quer priorizar a temporada de clubes no São José dos Campos.
A permanência de Renan e sua comissão técnica passou a ser bastante questionada pela comunidade do vôlei após o Sul-americano, há cerca de dez dias. A seleção perdeu para a Argentina por 3 a 0, no Geraldão lotado, em Recife (PE). O time não jogou bem em nenhum momento da partida. Em 35 edições desta competição, o Brasil nunca havia perdido o título continental (é dono de 33 troféus porque não participou em 1964).
Os argentinos já haviam sido algozes dos brasileiros no jogo que valia a medalha de bronze em Tóquio-2020. Após quatro edições seguidas de Jogos Olímpicos, em que o Brasil foi às decisões para brigar pelo ouro, desta vez a seleção se viu na disputa do bronze. E perdeu por 3 a 2 para os rivais sul-americanos.
O vôlei masculino passou duas décadas no pódio e na liderança do ranking mundial — atualmente o Brasil ocupa a quarta colocação, atrás da Polônia, Estados Unidos e Itália. E por isso, alguns resultados passaram a desagradar, como por exemplo o das últimas VNL, torneio que substituiu a Liga Mundial. O Brasil foi sexto, acumulando cinco derrotas em cada torneio.
Renan terá novo desafio no final do mês, com a disputa do Pré-olímpico, no Maracanãzinho, com rivais fortes como a atual campeã mundial Itália, além de Cuba e Irã. Catar, República Tcheca, Alemanha e Ucrânia também estarão no Rio.
O torneio é um octogonal de todos contra todos e as duas melhores seleções garantem vaga em Paris-2024. Caso o Brasil não termine entre os dois melhores da competição, poderá garantir a participação olímpica por meio do ranking mundial, que só será atualizado depois da fase preliminar da Liga das Nações do próximo ano. A preferência é para os mais bem colocados de países de continentes ainda não garantidos.
— Nosso foco total é na classificação dentro deste Pré-olímpico porque nos abre possibilidades importantes de planejamento para o ano que vem. Caso a gente não consiga, a gente vai sentar e avaliar o trabalho e ver qual rumo tomar — diz Bichara.
Os outros dois Pré-Olímpicos masculinos acontecerão no Japão (Japão, EUA, Eslovênia, Sérvia, Turquia, Tunísia, Egito e Finlândia) e na China (China, Polônia, Argentina. Holanda, Canadá, México, Bélgica e Bulgária). Cada torneio classificará dois países à Paris-2024.