
Alvo de operação conjunta entre a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio, cúpula de grupo paramilitar que atua em Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, já foi denunciada por diversos crimes. Entre os nomes denunciados estão: Dalmir Pereira Barbosa — apontado como o chefe da organização —, Taillon de Alcantara Pereira Barbosa — filho de Dalmir e considerado braço-direito do pai no esquema — e Laerte Lima da Silva. Todos foram presos entre terça-feira e a manhã desta quarta-feira. Ao todo, a polícia busca cumprir 13 mandados de prisão e 15 de busca e apreensão contra grupo.
Ex-PM, Dalmir foi citado na CPI das Milícias, em 2008, como um dos principais donos de Rio das Pedras. Em 2009, ele foi denunciado pelo Ministério Público por integrar a quadrilha. Além dele, outras 21 pessoas viraram réis no mesmo processo.
Em 2020, ele foi novamente denunciado e preso. De acordo com informação anônima recebida pelo Disque-Denúncia à época, Adriano da Nóbrega, ex-policial do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), contaria com o auxílio de Dalmir para o plano do assassinato de Simone Sibilio — então coordenadora do Gaeco e uma das responsáveis pelas investigações da morte da vereadora Marielle Franco.
O alerta do Disque-Denúncia dizia também que ele morava no condomínio Barra Palace e que andava com seguranças. Um deles seria o policial civil aposentado Antonio José Carneiro de Carvalho Lacerda, o Lalá, apontado como responsável por pagar propinas a policiais de delegacias distritais e especializadas. Ele também foi preso na operação.
Ao lado de Dalmir, outros dois nomes figuravam em denúncias feitas pelo MP como chefes da região: Paulo Eduardo da Silva Azevedo e Epaminondas Queiroz de Medeiros Júnior, o Capitão Queiroz. Eles seriam os responsáveis vários crimes, como: grilagem, construção, venda e locação ilegais de imóveis, extorsão, ocultação de bens adquiridos com as atividades ilícitas, pagamento de propina a agentes públicos, agiotagem, dentre outros.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_1f551ea7087a47f39ead75f64041559a/internal_photos/bs/2023/2/r/cg4HJ1ROqsMZhOq84vHQ/whatsapp-image-2023-10-31-at-18.55.00.jpeg)
- Taillon de Alcantara Pereira Barbosa
Taillon é filho de Dalmir Pereira Barbosa e ambos são apontados pelo Ministério Público do Rio como integrantes de uma quadrilha que atua em regiões da Zona Oeste da cidade. Em dezembro de 2020, ele teve a prisão preventiva decretada pelo crime de organização criminosa. Condenado, em junho de 2022, a oito anos e quatro meses de prisão por chefiar a quadrilha, ele deixou a cadeia em março para a prisão domiciliar e, seis meses depois, recebeu autorização para sair de casa.
A decisão do livramento condicional, assinada pelo juiz Cariel Bezerra Patriota, determina que Taillon compareça ao juízo a cada três meses para comprovar suas atividades. Ele precisa voltar para casa às 23h e permanecer durante toda a noite. Também é sua obrigação “portar-se de acordo com os bons costumes”, não se ausentar do estado e não se mudar sem comunicação ao juízo.
“Não frequentar lugares passíveis de reprovação social, tais como aqueles onde haja consumo excessivo de bebidas alcoólicas; onde haja venda de drogas ilícitas; casas de prostituição; prática de jogos proibidos e outros análogos”, finaliza a decisão.
De acordo com o Ministério Público, Taillon seria responsável pela exploração do transporte alternativo de vans e mototáxi e de serviços básicos como oferta de água, gás e TV a cabo, em Rio das Pedras, na Muzema e em outras comunidades nos arredores. O grupo também cobrava “taxas de segurança” de comerciantes e moradores, promovia a invasão e grilagem de terras e lucrava com a construção imobiliária clandestina. Taillon foi condenado, em junho de 2022, a oito anos e quatro meses de prisão por chefiar a quadrilha.
“Há o registro de uma série de recentes disque-denúncias que indicam que Taillon apresenta comportamento extremamente violento e exerce proeminente função de comando na organização criminosa”, diz trecho da sentença, assinada pela juíza Juliana Benevides de Barros Araújo.
Laerte Silva de Lima foi denunciado e preso na Operação Intocáveis I, em janeiro de 2019, contra a principal milícia que controlava Rio das Pedras, Muzema e outras áreas da Zona Oeste do Rio. As provas colhidas pela polícia revelam que a milícia contava com um sistema que misturava dinheiro lícito com ilícito em sucessivas transações financeiras em técnica conhecida como “mescla”.
Laerte atuava na milícia comandada pelo ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, que foi morto na Bahia, em 2020. Adriano também era chefe de um grupo de matadores de aluguel. Segundo o relatório das investigações da 18ª DP (Praça da Bandeira), feito à época, Laerte encabeçava as transações ilegais ao lado de Francisco das Chagas de Brito Castro. Além da ligação com o Adriano na Nóbrega, a quadrilha também estava envolvida com o major Ronald Paulo Alves Pereira, o major Ronald, outro acusado de liderar a milícia da região.
A denúncia do Ministério Público do Rio, feita à época da operação, também aponta que Laerte detinha o monopólio da venda de gás, além de extorquir moradores e comerciantes, coagindo-os ao pagamento de taxas por “serviços” prestados.
A ação contra milicianos prendeu, na manhã desta quarta-feira, Laerte Lima da Silva, no condomínio Barra Bali, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Além dele, outras quatro pessoas foram presas. Os agentes dão continuidade à operação deflagrada no início da tarde de ontem, que também prendeu cinco homens — dois alvos de mandados e três em flagrante. O alvo é o grupo de milicianos que atuam na comunidade de Rio das Pedras e Muzema, também na Zona Oeste. Cerca de 80 policiais federais cumprem 13 mandados de prisão preventiva e 15 de busca e apreensão, expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada do Rio, em endereços da capital e nos municípios de Saquarema e Angra dos Reis.
Os investigados vão responder pelos crimes de organização criminosa, porte ilegal de arma de fogo, lavagem de dinheiro, além de outros que possam surgir com a operação. A investigação é do Grupo de Investigações Sensíveis da PF (Gise/RJ) e da Delegacia de Repressão a Drogas (DRE/PF/RJ) em conjunto com o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ).
Segundo a Polícia Federal, a operação foi batizada de Embryo, que significa embrião em inglês, em referência à primeira milícia estruturada e com atuação em uma comunidade do Rio de Janeiro.