
Presidente da SBU-RN, Ângelo Campos ressalta que homens devem manter acompanhamento médico de rotina para prevenção – Foto: Reprodução
Uma nota técnica emitida em outubro pelo Ministério da Saúde, que recomenda o “não rastreamento populacional do câncer de próstata”, gerou debates entre profissionais da área acerca da prevenção da doença. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) não concorda com a recomendação. Para o presidente da seccional do RN, dr. Ângelo Campos, a nota pode ser interpretada como “equivocada”.
O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais incidente na população masculina em todas as regiões do Brasil, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. Para o Rio Grande do Norte, a estimativa é que 1.450 novos pacientes sejam diagnosticados com a doença até o fim deste ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Atualmente, essa doença é a segunda causa de óbito por câncer na população masculina.
A idade é o principal fator de risco, sendo mais incidente em homens a partir da sexta década de vida, bem como, histórico familiar de câncer de próstata antes dos 60 anos e obesidade para tipos histológicos avançados. Destaca-se também a exposição a agentes químicos relacionados ao trabalho, sendo responsável por 1% dos casos de câncer de próstata. Dentre as ações de controle para o câncer, duas estratégias se destacam: diagnóstico precoce e rastreamento – que se caracteriza pela aplicação sistemática de exames em pessoas assintomáticas, com o intuito de identificar um câncer em estágio inicial.
De acordo com a nota do Ministério da Saúde, o rastreamento do câncer de próstata aumenta de forma significativa o diagnóstico do câncer de próstata, porém sem redução significativa da mortalidade específica e com importantes danos à saúde do homem. Assim, a pasta ressalta que o rastreamento – exames de rotina – não é indicado para pessoas assintomáticas.
“Antigamente, não tinha como fazer diagnóstico de câncer de próstata a tempo de ter cura. Depois, surgiu o exame Antígeno Prostático Específico, o PSA, e então conseguimos mais diagnósticos precoces da doença. A literatura científica não é estática, ela evolui com o tempo, e alguns estudos mostraram que alguns cânceres de próstata são mais calmos. Então ficou-se com a dúvida ‘será que estamos tratando demais o câncer?’ ou ‘será que estamos tratando pacientes que não teriam problemas com o câncer de próstata?’”, explicou o presidente da SBU-RN, dr. Ângelo Campos, ressaltando que os tratamentos costumam levar inconvenientes para os pacientes.
Ele afirmou que alguns estudos apontam que não é interessante fazer o rastreio do câncer de próstata porque isso não diminui a mortalidade. “Mas outros estudos mais recentes, de melhor qualidade, mostram o contrário. Um estudo europeu, que envolveu 184 mil pacientes, notou que quem fazia rastreio de câncer de próstata tinha 27% menos mortalidade por câncer de próstata. Isso é significativo, e que bate com a nossa vivência como urologista, atendendo em consultórios”, pontuou.
A nota técnica reforça: “O Ministério da Saúde não recomenda o rastreamento populacional do câncer de próstata […] A doença detectada no rastreamento pode levar à necessidade de realizar novos exames para a investigação diagnóstica, podendo gerar necessidade de biópsia e complicações como dor, sangramento e infecções, além de ansiedade e estresse no indivíduo e na família, com pouco benefício aos pacientes”.
E recomenda aos gestores em saúde municipais e estaduais: “Informar aos homens que demandarem espontaneamente a realização de rotina de PSA ou toque retal sobre o balanço entre os possíveis benefícios e os riscos do rastreamento, estimulando a decisão compartilhada; além de não realizar campanhas para convocar homens assintomáticos para a realização de rastreamento com PSA e toque retal”.
Já a SBU recomenda o rastreio do câncer de próstata de forma racionalizada. “Tal rastreio deve ser realizado de maneira racionalizada, de modo geral em homens a partir dos 50 anos de idade ou a partir dos 45 anos de idade para os grupos de risco, observando as características de cada paciente, sempre optando pela decisão compartilhada entre médico e paciente e também se utilizando de todo o arsenal diagnóstico e terapêutico atualmente disponível de maneira adequada para evitar exames desnecessários, sobrediagnóstico e sobretratamento”, conforme posicionamento oficial.
Para Ângelo Campos, a campanha Novembro Azul, neste ano, tem uma responsabilidade ainda maior para contrapor a nota. “Isso porque a achamos um pouco equivocada. Ela tem seus argumentos, mas existem contrapontos. A gente acredita que a nota não considerou os estudos mais recentes. Não podemos passar régua e dizer que o rastreio não é necessário, o que a gente defende é a avaliação racionalizada. É ver o que cada paciente precisa, porque não podemos fechar o olho e dizer que isso não é problema, senão vai aparecer pessoas com doença metastática”.
O presidente da SBU-RN acredita que o Ministério da Saúde pode “reavaliar” o posicionamento. “Nós estamos à disposição para ajudar a revisar a nota, de maneira que fique mais esclarecedora para a população”, frisou. Ele também observa que é fundamental que os homens tenham acompanhamento médico de rotina ao longo da vida para prevenção.
SBU-RN inicia campanha Novembro Azul
Na próxima segunda-feira, 6 de novembro, a Sociedade Brasileira de Urologia – Seccional do RN fará o lançamento da campanha Novembro Azul 2023, na Associação Médica, localizada no Tirol, a partir das 8h. O evento marca o início das ações que vão ocorrer durante todo o mês de novembro em prol da prevenção ao câncer de próstata. Na ocasião, Ângelo Campos fará a abertura oficial e uma breve explanação sobre dados atuais e o rastreio da doença.
Fatores de risco para o câncer de próstata
Homens que apresentam alguma alteração suspeita, como dificuldade de urinar, diminuição do jato de urina, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite e sangue na urina, devem procurar uma unidade de saúde. Entre os principais fatores de risco para o câncer de próstata estão a idade (incidência e mortalidade aumentam significativamente após os 60 anos), o histórico familiar (pai ou irmão com câncer de próstata antes dos 60 anos) e a alimentação (sobrepeso e obesidade).
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece informação e atendimento com equipes multiprofissionais aptas a realizarem diagnóstico e acompanhamento desta população em todos os ciclos da vida. Além de exames clínicos, laboratoriais, endoscópicos e radiológicos, procedimentos cirúrgicos e tratamento.