A Delegacia de Homicídios prendeu, no fim da tarde desta quarta-feira, uma mulher suspeita de ter matado por envenenamento o policial civil Leonardo Pereira Alves, de 58 anos, e sua mãe, Luzia Tereza Alves, de 86, em Goiânia (GO). A mulher foi identificada como Amanda Partata Mortoza, de 31 anos. Ela foi conduzida à sede da DIH.
A mulher, que estaria por trás do envenenamento, se identifica nas redes sociais como “psicóloga, terapeuta cognitivo-comportamental, advogada aposentada e mãe”. Seu nome, no entanto, não aparece no Cadastro Nacional de profissionais inscritos. Na OAB seu cadastro aparece como regular. Procurada, a Polícia Civil ainda não deu detalhes sobre a motivação. A suspeita seria ex-nora de Leonardo.
‘Inquérito de 150 páginas’
Segundo a DIH, o inquérito policial tem “mais de 150 páginas de uma investigação minuciosa”, e “todos os detalhes serão explicitados em coletiva de imprensa marcada para esta quinta-feira” com apresentação de peritos da Polícia Técnica.
Léozão, como era conhecido, e sua mãe passaram mal, na última segunda-feira, após comerem doces. A doceria fabricante dos alimentos, famosa em Goiânia, chegou a ficar em evidência, mas sua responsabilização foi descartada ainda nesta terça-feira, após a abertura do inquérito.
A reportagem ainda não conseguiu contato com a defesa de Amanda Partata.
A Perdomo Doces, da empresária Mariana Perdomo, reagiu em nota:
“A Perdomo Doces informa que as autoridades da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), responsáveis pela investigação de denúncias de intoxicação alimentar envolvendo produtos da empresa, descartaram nesta quarta-feira (20) qualquer tipo de envolvimento da confeitaria no episódio.
Por meio de seus advogados, Auro Jayme e Otávio Forte, a Perdomo Doces colaborou ativamente com as investigações, fornecendo todas as informações solicitadas pelas autoridades, no sentido de elucidar o mais breve possível qualquer dúvida que houvesse a respeito da qualidade de seus produtos.
A empresa aproveita a oportunidade para agradecer as milhares de manifestações de carinho e apoio recebidas nos últimos dias. Embora os danos reputacionais causados pela disseminação de boatos e desinformação tenham culminado em prejuízos financeiros e trazido grande sofrimento emocional a seus integrantes, a Perdomo Doces reforça sua disposição em continuar sendo referência em excelência nas experiências oferecidas a seus clientes”.
Leonardo Pereira Alves trabalhava na Polícia Civil como assistente de gestão administrativa e era lotado na Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores de Goiás, a DERFRVA. Deixa dois filhos.
O caso veio à tona após uma publicação feita pela filha de Leonardo, a médica Maria Paula Pereira Alves, de 26 anos. Era uma homenagem emocionada ao pai, escrita ainda na madrugada após sua morte, mas que chamou atenção também por revelar que, antes de morrer, ele havia comido doces da famosa lanchonete goiana. Ela dizia que o pai “acordou, comeu um alimento comprado em um estabelecimento famoso e com credibilidade, mas acabou passando mal.”
Acrescentou ainda que ele apresentou sintomas como vômito, diarreia e dores abdominais. “Vomitou sem parar, por horas, buscou atendimento médico e, quando eu soube da situação, já havia ocorrido uma série de complicações que acabaram levando a óbito. Entre o primeiro sintoma até seu último suspiro não teve nem 12 horas”.
‘Não apontei o dedo’, diz filha
Nesta terça-feira, após o enterro do pai, Maria Paula voltou a se manifestar. Desta vez, em forma de desabafo. Ela disse que não tinha a intenção de levantar suspeitas contra a doceria quando fez a publicação e criticou a postura de pessoas que foram ao seu perfil fazer comentários negativos.
“A minha introdução apenas foi um aviso do que tinha acontecido, foram fatos, apenas fatos, antes de declarar minha dor, meu amor, minha saudade. Quando falo que ele ‘comeu comida de um lugar famoso e bem credificado e passou mal’ é um fato, em que não estou acusando/culpando ninguém e sim falando ‘CARAMBA! POR QUE RAIOS ACONTECEU ISSO?’, ‘A VIDA É EFEMERA!’. Não apontei o dedo. Nem mesmo coloquei nome, causa, etc. Não tenho ideia, ainda, do que houve”, disse a jovem.
Ela disse ainda que foi à loja, no intuito de impedir que outras pessoas acabassem intoxicadas, se fosse este o caso, e acabou bem recebida pela dona da doceria, Mariana Perdomo de Barros, de 30 anos.
“Logo no inicinho de tudo, eu fui atrás do contato da proprietária da loja, contei o ocorrido e repeti um milhão de vezes a ela que queria apenas ajudar a prevenir que mais alguém passasse por isso, para retirar todos os produtos daquele lote, para alertar, para ajudar o máximo de pessoas possíveis, e que não estava apontando, culpando, processando ou algo do tipo. Ela inclusive esteve o tempo todo prestativa comigo para tudo que eu precisasse”, acrescentou.
O GLOBO entrou em contato com Maria Paula, que, abalada, preferiu não falar mais sobre o assunto.
‘Nenhuma irregularidade’, diz Procon após fiscalização
O Procon de Goiás foi acionado e agentes foram ao local, ainda na segunda-feira. Segundo o órgão, os profissionais “verificaram informações contidas nas embalagens, datas de fabricação e validade, acomodação e refrigeração dos doces e, nesta ocasião, não foi constatada nenhuma irregularidade nos produtos fiscalizados”.