Navio-sonda que será responsável pela perfuração de poço chegou ao RN. Foto: Acervo Foresea/Divulgação
A exploração da Margem Equatorial brasileira, trecho da costa que se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá, pode trazer impacto significativo para a economia do estado, conforme avaliam representantes do Sindicato dos Petroleiros do RN (Sindipetro). Caso seja descoberta uma quantidade rentável de petróleo a partir da perfuração de poços na Bacia Potiguar, haverá aquecimento de toda a indústria, com benefícios que vão desde o aumento da arrecadação até a geração de emprego e renda.
A avaliação é do secretário-geral Sindipetro-RN e diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Pedro Lúcio Góis. Em entrevista ao AGORA RN, ele falou sobre o início da perfuração do poço de Pitu Oeste, na Bacia Potiguar. “O navio-sonda chegou, e a perfuração em si deve começar no final de dezembro ou no início de janeiro”, pontuou ele. O trabalho pode durar de 3 a 5 meses.
O Pitu Oeste é o terceiro poço da concessão BM-POT-17, que já foi explorada anteriormente, sendo a última perfuração em 2015. “Em 2013, a Petrobras fez a descoberta do campo de Pitu. Em 2014, perfurou os primeiros poços, evidenciando que há petróleo nessa área. O próximo passo seria a avaliação dessa descoberta. É basicamente saber qual o tamanho da reserva que está lá e qual potencial de produção dessa reserva. De 2015 para cá, porém, a Petrobras mudou o foco. Retirou os investimentos de grande parte das campanhas exploratórias que tinha, que são fundamentais para descobrir novas reservas, concentrando tudo no pré-sal”, relembrou Pedro Lúcio Góis.
“O que ela ia fazer aqui com a nossa área? Vender. Vender as concessões, inclusive essa área de Pitu. Então está parado desde 2015 por causa disso. Agora em 2023 nós temos uma nova inflexão, uma nova mudança nos rumos da Petrobras, que permite que a gente volte a olhar para essa área, não como a área potencial para ser vendida, mas agora de volta como a área potencial para ser explorada”, frisou.
Para ele, a Margem Equatorial tem um potencial enorme. “Sendo descoberto lá uma jazida conforme as previsões têm indicado, tem potencial de mudar a história da indústria do estado do Rio Grande do Norte. A gente tem condição de ter um novo salto do petróleo como foi ali de 2000 a 2010 no nosso estado, tem condição de ter esse novo salto na indústria petrolífera aqui a partir dessa área. Temos essa nova esperança”.
Além do poço de Pitu Oeste, a Petrobras informou que ainda pretende perfurar o poço Anhangá, em outra concessão da Bacia Potiguar (POT-M-762). “Em nosso Plano Estratégico 2024-2028, está previsto US$ 3,1 bilhões em investimentos em atividades exploratórias na Margem Equatorial. Esse esforço já dá a medida da confiança em que depositamos no potencial dessa faixa do litoral brasileiro, muito promissora”, disse o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, por meio de nota.
Segundo Pedro Lúcio Góis, as produções de petróleo têm mudado a história do RN. “Quando tivemos uma grande produção de petróleo no Canto do Amaro, em Mossoró, que foi o maior campo de produção terrestre de petróleo do País, e em outros lugares, o impacto econômico foi desde a arrecadação de ICMS ao Governo do Estado até a geração de emprego, renda e mão-de-obra qualificada. Nós estávamos exportando profissionais do petróleo até”, observou.
O atual projeto não é simples, nem de curto prazo. “Agora temos que fazer a avaliação da descoberta, entre isso e o primeiro óleo comercializável pode demorar até 5 anos. Imaginamos que, se provando que existe uma quantidade significativa e rentável de petróleo, daqui 5 anos podemos ter um aquecimento nessa indústria em decorrência da perfuração desses poços. É uma indústria que a gente sabe que é lucrativa, que gera arrecadação para o Estado”, afirmou Pedro Lúcio Góis.
Marcos Brasil, atual diretor jurídico e eleito coordenador do Sindipetro-RN no período de 2024 a 2027, acredita que a retomada da exploração acende os ânimos dos petroleiros. “É possível que na Margem Equatorial exista ainda mais petróleo do que no pré-sal. Existe a possibilidade de ter uma reserva gigante de petróleo aqui que vai representar uma riqueza enorme. O petróleo é usado na fabricação de mais de 5 mil produtos diferentes, então o mundo inteiro precisa dele”.
Infraestrutura na Costa Branca
Além da geração de emprego e renda no RN, Marcos Brasil ressaltou o impacto em outras áreas econômicas, como o setor de hotelaria e comércio. “A Petrobras vai montar, com o aumento das operações, estruturas em cidades costeiras como a Areia Branca e Grossos. Com isso, vai aumentar a procura por imóveis. Inclusive, hotéis e pousadas porque o pessoal vai precisar ficar hospedado nessas cidades para embarcar nas plataformas. Então toda a parte de comércio vai ser impactada positivamente”, projetou.
Ainda de acordo com Pedro Lúcio Góis, é importante que as cidades da Costa Branca, próximas ao campo de Pitu Oeste, como Areia Branca, Grossos e Mossoró, estejam preparadas com infraestrutura adequada para receber esses possíveis investimentos. “Nesse sentido, é fundamental por exemplo a duplicação da BR-304, a melhoria das rodovias que levam à Costa Branca, assim como a infraestrutura de portos e aeroportos. A região precisa se preparar, para que a falta de infraestrutura não seja um problema”.
Potencial seria maior caso Petrobras dominasse refinaria
Para Pedro Lúcio Góis, o RN deve receber a possibilidade de exploração com ânimo. No entanto, o desenvolvimento seria ainda maior se a Petrobras dominasse a refinaria no território potiguar, conforme a avaliação do representante do Sindipetro. “Em janeiro de 2022, o discurso da Petrobras era sair do RN e muita gente estava achando que essa era a solução, inclusive ouvimos isso de ex-ministros e deputados potiguares”, criticou.
E continuou: “Estamos vendo agora, na prática, que isso fazia parte de um projeto político e não era verdade. Nossa região ainda tem muito potencial, e teria muito mais se a Petrobras não tivesse desfeito os investimentos que tinha aqui no estado. O potencial da Margem Equatorial é grande, mas seria maior se a Petrobras ainda dominasse a refinaria no RN. Já teria estrutura para receber a produção aqui, mas agora terá que ir a outros estados para ser refinada, então perde-se uma parte da cadeia”.