Houve um tempo, acreditem, em que o assunto “dicas de segurança na praia” se limitava às recomendações dos bombeiros: respeitar placas e bandeiras de sinalização, manter o olho vivo nas crianças e dar preferência a locais próximos aos postos de guarda-vida, por exemplo. Tudo isso continua atual e importantíssimo, mas não é de hoje que as preocupações dos frequentadores da orla do Rio vão muito além. A ação frequente de criminosos, em grandes bandos ou pequenos grupos, exige de cariocas e turistas a adoção de táticas específicas para evitar roubos, furtos e outras ações violentas.
As dicas de especialistas e “habitués” são quase sempre as mesmas: atenção redobrada tanto na areia quanto no calçadão; evitar levar para a praia (e mais ainda ostentar) objetos de valor como relógios, cordões e, principalmente, celulares; dar preferência a locais onde há policiamento visível. Por fim, caso de abordagem criminosa seja inevitável, não reagir. Pode parecer óbvio, mas muita gente ainda ignora essas dicas básicas e acaba se tornando alvo preferencial de criminosos nas praias do Rio.
— A orla é, por uma série de fatores, um dos locais mais policiados do Rio, mas não vai ter policial para todo mundo. É preciso entender que é um momento e um lugar propícios para a ação desses criminosos devido à grande circulação de pessoas e riquezas portáteis como celulares e carteiras. Coisas que ficam no radar de quem vai circular por ali observando as fragilidades e esperando o momento de agir — diz o antropólogo Robson Rodrigues, coronel da reserva da PM do rio e ex-chefe do Estado Maior Geral da corporação.
Morador de Copacabana há 30 anos e presidente da associação de moradores do bairro, Tony Teixeira ainda lembra do tempo em que frequentar a praia — e as ruas do bairro em dias de sol e calor — era mais tranquilo.
— Sempre houve pequenos furtos, mas não da forma que está agora. Hoje, em alguns momentos, temos medo de sair às ruas porque há uma ação coordenada e violenta de alguns grupos — relata Tony — Uma dica em especial que eu dou é evitar cordões dourados, mesmo que seja bijuteria. Eles atraem muito a atenção desses criminosos, já testemunhei isso várias vezes — ensina.
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Na areia, é preciso atenção redobrada. Nas redes sociais circulam vídeos, em tom de piada, ensinando como fazer rapidamente um buraco para enterrar o celular como forma de evitar o roubo ou furto. Exageros à parte, um mero instante de distração pode resultar na perda do patrimônio.
— Tem que ficar de olho sempre em tudo. Isso é básico mesmo. A gente procura ajudar, temos grupo de WhatsApp dos barraqueiros da praia. A gente se fala quando tem alguma movimentação estranha e procura alertar os banhistas que estão próximos, mas sempre tem um esperto que consegue se aproveitar da distração de alguém — diz Jeferson de Oliveira, 51 anos, que trabalha em uma das barracas na areia de Copacabana, na altura do Posto 3.
Na terça-feira, bem perto dali, os radiologistas argentinos Gaston Minetti, de 38 anos, e Gabriela Veron, de 31, curtiam o sol carioca despreocupados. O motivo é bem simples: alertados previamente dos perigos em potencial da praia mais famosa do Brasil, simplesmente deixaram todos os objetos de valor guardados no hotel e saíram com uma quantidade pequena de dinheiro, apenas o suficiente para uma emergência. À vista, apenas uma garrafa térmica e a inconfundível cuia com o mate tão apreciado no Sul do continente.
— De modo geral a gente tem se sentido seguro aqui no Rio, mas fomos aconselhados a não andar com objetos de valor. Foi melhor assim, ficamos mais relaxados. Afinal, não tem necessidade de trazer o celular. Estamos na praia! Mas o mate não pode faltar. Acho que ninguém aqui vai se interessar em roubar isso — diverte-se Minetti.
As amigas Leila Lessa, de 54 anos, e Sônia Pires, de 53 anos, conversavam embaixo de um guarda-sol. Acostumadas com a praia, as duas sabem, como qualquer carioca, que não podem se dar ao luxo de desfrutar do mar ao mesmo tempo. Enquanto uma vai se refrescar, a outra toma conta das bolsas e vice-versa.
— Fora isso, deixo o celular o tempo todo na bolsa. Procuro não tirar nem para ouvir música. Coloco o fone e deixo ele guardadinho. Infelizmente tem que ser assim — lamenta Leila.
Titular da 12ª DP (Copacabana), o delegado Angelo Lages reforça a importância de manter a atenção na orla em todos os momentos.
— É fundamental sempre observar o entorno e tentar se proteger. Caso aconteça alguma coisa a gente reforça o pedido para que as pessoas registrem a ocorrência. Isso é importantíssimo, só dessa forma a gente consegue enxergar a mancha criminal daquele local e planejar melhor as ações de prevenção e combate a esse tipo de delito — explica o delegado.